Tu és teu corpo.
Tu és teu espírito.
Mas corpo e espírito não são coisas distintas, e sim uma só e mesma coisa.
Teu corpo é teu espírito e teu espirito é teu corpo.
E teu corpo é tudo: toda física e toda metafísica, todo o sagrado e todo o profano, toda consciência e toda inconsciência.
Disse bem Zaratustra: “corpo sou eu inteiramente, e nada mais; e alma é apenas uma palavra para um algo no corpo. O corpo é uma grande razão, uma multiplicidade com um só sentido, uma guerra e uma paz, um rebanho e um pastor”.
O que se passa contigo não é diverso do que se passa com todo ser vivo, animal e vegetal. Somos todos filhos de uma mesma Deusa: a Natureza.
Repara a formiga e o tamanduá, a raposa e a galinha, o leão e a gazela: são em tudo iguais a ti. E estão condenados ao mesmo destino: nascer, crescer, adoecer, perecer.
Cuida do corpo, portanto, e evita torturá-lo moralmente. Diz sim apenas à moral que diz sim à vida, que a afirma. Evita a moral que condena a vida, que ama a morte.
Diz não à moral que te obriga a ser o que não és. Torna-te quem tu és!
Permita que o corpo se manifeste, que se realize, que se expanda. Mas respeita as suas necessidades e limites. Vê que precisa de solo e clima favoráveis.
Nota que não há nada além do corpo: vida eterna, paraíso, juízo final são ficções do corpo, sobretudo do corpo que sofre, do corpo fraco. Como ensinou Zaratustra, foram os doentes e moribundos que desprezaram o corpo e a terra e inventaram as coisas celestiais e as gotas de sangue redentoras.
Previne-te contra os corpos que amam o martírio, pois são perigosos, são uma ameaça a si mesmos e querem universalizar o seu sofrimento.
Queres ser bom, justo, amável?
Cuida, então, do corpo e tudo estará preservado. Mas, se o abandonares ou o ofenderes, tudo estará perdido.
Duvidas que o corpo é tudo? Experimenta passar fome, mendigar e dormir ao relento e adoecer, e verás como mudarão teus pensamentos. Porque teus estados mentais refletem as necessidades de teu corpo. E teus medos e teus desejos são os medos e desejos de teu corpo.
Festeja, pois, o corpo; festeja a vida!