Verdade, portanto, não é algo que existisse e que se houvesse de encontrar, de descobrir – mas algo que se há de criar e que dá o nome a um processo;
“Verdade”: no interior de minha maneira de pensar, essa palavra não designa necessariamente uma oposição ao erro, mas, sim, nos casos mais fundamentais, somente uma posição de diferentes erros;
Todo conhecimento humano é ou experiência ou matemática;
O critério da verdade está no incremento do sentimento de poder;
Parmênides disse: “não se pensa o que não é” – estamos na outra extremidade e dizemos: “o que pode ser pensado há de ser, seguramente, uma ficção”;
Uma “coisa em si” é tão absurda quanto um “sentido em si”, um “significado em si”. Não há nenhum “fato em si”, mas antes um sentido há de sempre ser primeiramente intrometido para que um fato possa haver;
Infinita possibilidade de interpretação do mundo: cada interpretação é um sintoma de crescimento ou de declínio;
Nós criamos o mundo que tem valor!
Não há nenhum fato; tudo é fluído, inconcebível, esquivo;
Afinal, o homem só reencontra, nas coisas, aquilo que ele mesmo fincou nelas: – o reencontrar chama-se ciência, o fincar – arte, religião, orgulho. Em ambos, se isso devesse ser mesmo brincadeira de criança, dever-se-ia continuar a ter bom ânimo para os dois – uns para o reencontrar, outros – nós todos! – para o fincar!
Imprimir no devir o caráter de ser – essa é a mais elevada vontade de poder;
Conhecimento em si no devir é impossível; é, portanto, possível conhecimento? Como erro sobre si mesmo, como vontade de poder, como vontade de ilusão;
Verdade é o tipo de erro sem o qual uma espécie de seres vivos não poderia viver. O valor para a vida decide em última instância;
O não-poder-contradizer prova uma incapacidade, não uma “verdade”.
Extraídas de “A vontade de poder”. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.