Da escola de guerra da vida – O que não me mata me fortalece. (Nietzsche. Crepúsculo dos ídolos. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 10.)
Sempre fui ansioso, tal como meu pai; talvez mais.
Lembro-me de que, por mais de uma vez, quando criança, era o primeiro a chegar à escola e ficava sentado aguardando abrirem os portões.
Recordo ainda que, por volta dos 7 (sete) ou 8 (oito) anos, acordei cedo preocupado com o seguinte: “onde vou morar quando casar?”. Então, vaguei pelas ruas mais próximas da minha residência e depois de encontrar uma que me agradara, fui para minha casa e voltei a dormir. Raramente compareço a algum compromisso no horário, mas antes, uns 15 minutos ao menos. Levo meus compromissos excessivamente a sério. E nunca consegui dormir durante uma viagem, de carro ou de avião.
Formado em Direito, e já Procurador do Estado da Bahia (Fazenda), comprometi-me comigo mesmo que teria de passar no concurso para Procurador da República até os 30 (trinta anos). Fui aprovado aos 27 (vinte e sete) anos. Poderia citar um sem número de situações semelhantes.
Mas a ansiedade nunca foi um problema, e sim uma aliada, exceto pela eventual insônia que me causava.
Recentemente, porém, conheci o maior problema de saúde da minha vida.
Tratava-se de uma crise de ansiedade, algo próximo da chamada síndrome de pânico. Conto-a a seguir.
Faço pública essa experiência por duas razões: primeiro, porque julgo importante divulgar como a superei; segundo, por se tratar de um problema grave e frequente que acomete um número considerável de pessoas em todo mundo. Além do mais, não estamos, em geral, minimamente preparados para lidar com isso.
Naturalmente que esse problema não surge por acaso. No meu caso, creio que o aumento da ansiedade deveu-se, em especial, a investimentos que fiz, os quais nada tinham de mais, mas que passaram a me preocupar exageradamente.
Fato é que, com alguma frequência, passei a sentir um frio e um desconforto descontínuo no coração e a minha insônia foi aumentando lenta e progressivamente. Passei a pensar nos tais investimentos constantemente.
Então, essa sensação de desconforto foi se agravando, associada a um grande medo. O coração passou a bater forte e aceleradamente. Minhas mãos e voz passaram a tremer. Minhas mãos suavam frias. Tinha a sensação de que o coração não iria suportar tanta pressão. Passei a ter algumas fobias, inclusive medo de dormir.
Fui a um médico clínico que me receitou medicamento fitoterápico, mas não senti melhora alguma.
A crise chegou a tal ponto que não conseguia mais dormir. Dormir passou a ser uma tortura. Ia para a cama já com a convicção de que não conseguiria dormir. Passei a ter pensamentos bastante negativos e sombrios. Fiquei 10 (dez) dias sem dormir. Fui ao inferno e voltei.
Como superei isso?
Primeiro, fui a uma psiquiatra, que me receitou dois remédios para controlar a ansiedade.
Graças a esses remédios, especialmente um poderoso medicamento tarja preta (rivotril), pude dormir, pela primeira vez, depois de 10 (dez) dias. Dormi seis horas, profundamente. Acordei com uma alegria que não tenho como descrever.
Julguei, então, que havia superado o problema; mas, em verdade, o problema persistiu, embora (agora) suportavelmente.
No meu caso, os remédios, apesar de importantes, atenuavam, mas não resolviam o problema. Fiz, pois, o seguinte: 1)livrei-me, em parte, dos tais investimentos; 2)acupuntura; 3)massagens; 4)atividade física; 5)evitei leituras pesadas à noite; 6)revi minha alimentação; 7)passei a evitar café e outros estimulantes a partir das 18 horas; 8)passei a ler a Bíblia, embora incrédulo; 9)voltei a orar; 10) passei a evitar situações que costumam aumentar a minha ansiedade; 11)apesar de tudo, continuei minha vida normalmente, trabalhando etc.; 12)passei a ouvir músicas que me elevam (no meu caso, rock, principalmente).
Julgo todas essas providências importantes e as recomendo, mas creio que o mais relevante é o seguinte: a crise de ansiedade (o medo infundado, a síndrome de pânico etc.) é uma espécie de fantasma criado por nós mesmos. Lutar, pois, contra ela, é lutar contra si mesmo.
Consequentemente, não devemos, como é comum (e assim eu fiz inicialmente), fugir da crise ou tentar ignorá-la, como se ela não existisse, tentando simplesmente esquecê-la. Não tenha medo do medo!
Não! O que você deve fazer é reconhecer-se como um forte, que você é capaz de superar isso, que, quanto mais você fraquejar, mais esse fantasma se agigantará e tomará conta de você. Reaja, pois!
Diga, se necessário, palavras de ordem ou mesmo palavrões! Mande esse fantasma para o quinto dos infernos! Evite pensamentos negativos ou sombrios!
E não faça como certos animais que, podendo enfrentar outro que o ameaça, tentam fugir e, ao fazê-lo, encorajam-no a persegui-lo e capturá-lo.
Tome consciência de que foi você quem criou isso; logo, você pode perfeitamente enfrentá-lo e vencê-lo! E você vencerá!