“Toda verdade é simples” – Não é isso uma dupla mentira?
Como? o ser o humano é apenas um equívoco de Deus? Ou Deus apenas um equívoco do ser humano?
Da escola de guerra da vida – O que não me mata me fortalece.
Não cometamos covardia em relação a nossos atos – Não os abandonemos depois de fazê-los – É indecente o remorso!
O homem criou a mulher – mas de quê, pergunta? De uma costela de seu Deus – de seu “ideal”.
Desconfio de todos os sistematizadores e os evito. A vontade de sistema é uma falta de retidão.
A fórmula de minha felicidade: um sim, um não, uma linha reta, uma meta…
Juízos, juízos de valor acerca da vida, contra ou a favor, nunca podem ser verdadeiros, afinal; eles têm valor apenas como sintomas, são considerados apenas enquanto sintomas – em si, tais juízos são bobagens.
Sócrates foi um mal-entendido: toda a moral do aperfeiçoamento, também a cristã, foi um mal-entendido.
Tudo o que os filósofos manejaram por milênios foram conceitos-múmias; nada realmente vivo saiu de suas mãos; eles matam, eles empalham quando adoram, esses idólatras de conceitos.
Receio que não nos livramos de Deus, pois ainda cremos na gramática.
Aniquilar as paixões e os desejos apenas para evitar sua estupidez e as desagradáveis conseqüências de usa estupidez, isso nos parece, hoje, uma forma aguda de estupidez.
Atacar as paixões pela raiz significa atacar a vida pela raiz: a prática da igreja e hostil à vida.
A vida acaba onde o “Reino de Deus” começa.
Onde quer que responsabilidades sejam buscadas, costuma ser o instinto de querer julgar e punir que aí se busca.
Os homens foram considerados livres para poderem ser julgados, ser punidos – ser culpados.
O cristianismo é uma metafísica do carrasco.
O conceito de “Deus” foi, até agora, a maior objeção à existência. Nós negamos Deus, nós negamos a responsabilidade em Deus: apenas assim redimimos o mundo.
Não existem fenômenos morais, mas apenas uma interpretação moral dos fenômenos. Moral é apenas uma interpretação de determinados fenômenos, mais precisamente uma má interpretação.
Todos os meios pelos quais, até hoje, quis-se tornar moral a humanidade foram fundamentalmente imorais.
Paga-se caro por chegar ao poder: o poder imbeciliza.
Teologia, ou corrupção da razão, pelo “pecado original” (o cristianismo).
O ser humano acredita que o mundo está repleto de beleza – ele esquece a si mesmo com causa dela. Somente ele dotou o mundo de beleza, de uma beleza muito humana, demasiado humana. No fundo, o ser humano se espalha nas coisas, acha belo tudo o que lhe devolve a sua imagem.
As instituições liberais deixam de ser liberais logo que são alcançadas: não há, depois, nada de tão radicalmente prejudicial à liberdade quanto as instituições liberais.
Platão é um covarde perante a realidade – portanto, refugia-se no ideal.
Extraídas de Crepúsculo dos Ídolos. S.Paulo: Companhia das Letras, 2006.