A ilusão do sentido do texto

21 de setembro de 2009

Li um texto e ele me disse algo.

Mostrei-o a um amigo, e a ele o texto disse coisa diversa.

A uma terceira pessoa, o texto disse algo que não dissera a nenhum de nós.

A uma quarta, o texto emudeceu.

Voltei a lê-lo muito tempo depois e o texto me disse algo completamente novo.

Tenho agora a impressão de que o texto jamais nos disse coisa alguma.

E que a cada momento, a cada contexto, o texto nos diz algo de novo, ou melhor, nós dizemos que ele nos diz algo de novo.

E que, a pretexto de falar de textos, estamos a falar de nós mesmos, de modo que os textos somos nós e nós somos os textos.

E que os limites de um texto são nossos próprios limites.

 

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12 Comentários

  1. O texto me remeteu para uma passagem de “limites da interpretação”, de Umberto Eco: “um texto, uma vez separado do seu emissor (bem como da intenção do seu emissor) e das circunstâncias concretas da sua emissão (e consequentemente de seu referente implícito), flutua no vácuo de um espaço potencialmente infinito de interpretações possíveis. Consequentemente, texto algum pode ser interpretado segundo a utopia de um sentido autorizado fixo, original e definitivo. A linguagem sempre diz algo mais do que o seu inacessível sentido literal, o qual já se perdeu a partir do início da emissão textual”.

  2. Discordo; penso que o sentido do texto é dado pelo texto mesmo, pois, a não ser assim, chegaríamos a uma radical descontrução do texto, a ponto de considerar, por exemplo, os livros sagrados (p.ex., a Biliblia), como não sagrado, dando-lhes o mesmo status da literatura ou da mitologia.

  3. Natural que cada um construa sua própria interpretação sobre um texto, contudo, caso a linguagem do texto seja inteligivel ao seu público alvo uma vontade do texto pode ser encontrada por seus leitores sim, pois a análise subjetiva de um texto não compartilhada por outros não possui força, a não ser um caráter opinativo de quem fez essa interpretação. O importante sim é encontrar os pontos em comum das diversas opiniões para que se possa trabalhar no estabelecimento de um conceito por meio do debate dos interessados, isso se mostra especialmente importante na análise da constituição ao tentar por exemplo se estabelecer a vontade da mesma e aparta-la das vontades de poder dos indivíduos. Se não houvesse essência em comum na interpretação de todos nunca haveria um concenso e trilhariamos ciclicamente os campos do achismo e da imposição de vontades.

  4. não sou seguidor de nenhuma seita muito menos ateu, apenas acredito em Deus e amo filosofia………alguns dirão ser isso contraditório…que o seja…..depende da interpretação, e tal interpretação sendo escrita (texto) nada mais é do que o ponto de vista subjetivo ao extremo de uma pessoa, e aqueles que não conseguem interpretar ou escrever um texto para se expressar se servem de textos dos teologos embrionários lá dos séculos passados para cultivar dogmas tão obsoletos e os ateus usam textos para o mesmo fim, qual seja, ambos escrevem sobre algo que ainda não viram : DEUS !……abraços…..parabens Paulo Queiroz

  5. É claro que o Bruno viu e vê Deus: e ele tem barba bem feitinha, olhos azuis, é branco, jovem e bonito, exatamente como nos filmes americanos. Enfim, tem exatamente a carinha bonita do colonizador europeu: que matou, destruiu e venceu, exterminando não só pessoas e grupos (índios e não-índios) que habitavam o novo mundo, mas suas culturas, seus deuses, sua religião, sua lingua, sua história, seus registros, sua identidade. São os vencedores que contam a história e impõem uma nova cultura, uma nova religião, um novo Deus (ou deuses) e novos mitos.

  6. Este texto é um texto nitidamente cético. Vou um pouco além: caso o texto dissesse a mesma coisa a todo o mundo, todos os dias, teríam então encontrado a VERDADEIRA ESSÊNCIA do texto? Estaria então aí o seu SENTIDO?

  7. Gosto da conclusão. Os limites do texto são os nossos próprios limites. Isso só não é verdade quando o texto é limitado por si mesmo. Tem gente que não devia se aventurar a escrever. Não é seu caso, PQ.
    Até!

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