Eu vos digo: é necessário ter um caos em si para poder dar à luz uma estrela bailarina. (p. 27)
De tudo quanto se escreve, agrada-me apenas o que alguém escreve com o próprio sangue. Escreve com sangue e aprenderás que sangue é espírito.
(…)
Outrora o espírito era Deus; mas depois se fez homem; agora se fez plebe.
Quem com sangue e em máximas escreve não quer ser lido, mas guardado em memória.
(…)
Há sempre um quê de loucura no amor. Mas há sempre também um quê de razão na loucura.
(…)
“Eu não poderia crer num Deus, se ele não soubesse dançar” (p. 58/59)
O homem do conhecimento não só deve saber amar a seus inimigos, mas também a odiar os seus amigos.
Mal corresponde ao mestre o que não passa nunca de discípulo.
As melhores parábolas devem falar do tempo tempo e do suceder; devem ser um louvor e uma justificação de tudo o que é efêmero. (p. 119)
Se não posso deixar de sentir compaixão, não gosto que me chamem de compassivo; e quando o sou, gosto de o ser à distância. (p. 123)
Melhor seria abolir completamente os mendigos! Na verdade, indignam-nos quando lhes damos, e indignam-nos quando não lhes damos. (p. 124)
E não é para quem detestamos que somos os mais injustos, mas para aquele que nos é completamente indiferente.
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“Deus também tem seu inferno: é o seu amor pelos homens” (p. 125)
Mas o sangue é o pior testemunho da verdade; o sangue envenena a doutrina mais pura, e a torna uma loucura, um ódio no fundo dos corações. (p. 129)
Vós amais a vossa virtude como a mãe ama o filho; mas ouvimos alguma vez dizer que a mãe queria ser paga de sua ternura? (p. 131)
Ah meus amigos, quando vos puserdes integralmente em vosso ato, como a mãe se põe totalmente em seu filho, eu direi que essa é a vossa melhor definição da virtude. (p. 133)
“O que chamamos a justiça é encher o mundo das tempestades de nossa vingança” – eis o que dizem uns aos outros.
(…)
Eu vos dou, portanto, este conselho, meus amigos: desconfiai de todos aqueles nos quais o instinto de punir é poderoso.
Desconfiai daqueles que falam muito de sua própria justiça. Na verdade, não é somente de mel que se alimentam essas almas. E a si mesmas se chamam boas e justas, não esqueçais que para serem filisteus, falta-lhes apenas o poder. (p. 138-9)
(…)
Pois a justiça me diz, a mim, que os homens não são iguais. (p. 139)
O que eu aprendi em terceiro lugar: foi que mandar é mais difícil que obedecer. Não somente porque aquele que manda assume a carga de todos os que lhe obedecem, e que essa carga arrisca esmagá-lo, mas porque reconheci que mandar comporta uma aventura e um risco, e cada vez que manda, arrisca a vida. (p. 157)
Eis o segredo que a vida me confiou – “Vê – disse-me ela – eu sou aquela que deve sempre superar-se a si mesma”. (p. 158)
Vossos juízos de valor e vossas teorias do bem e do mal são meios de exercer o poder. (p. 159)
Tudo quanto é reto mente – murmurou com desdém o anão. – Toda a verdade é sinuosa: o próprio tempo é um círculo. (p. 212)
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém. 3ª Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.