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O Deus de Espinosa

Assim vemos que o homem, como parte da Natureza inteira, da qual depende e pela qual também é governado, não pode fazer nada por si mesmo para sua salvação e seu bem-estar.

 

Antes de tudo, daí segue que somos verdadeiramente servidores, e mesmo escravos de Deus, e que a nossa maior perfeição é sê-lo necessariamente. Pois se fôssemos deixados a nós mesmos, e não na dependência de Deus, poderíamos realizar muito pouco, ou mesmo nada; e a justo título tiraríamos disso uma causa de entristecimento. Todo o contrário é o que vemos agora, a saber, que dependemos do perfeitíssimo de tal maneira que somos uma parte do todo, isto é, Dele mesmo; e, por assim dizer, contribuímos em certa medida para a realização de tantas obras habilmente ordenadas e prefeitas que dependem dele.

 

Por fim, esse conhecimento nos leva também a não temer a Deus, como outros temem que o Demônio, que eles mesmos fingiram, para lhes fazer mal. Como poderíamos temer a Deus, que é o próprio sumo bem, pelo qual todas as coisas têm alguma essência são o que são, incluindo a nós que vivemos nele?

 

Daí se segue que Deus não estabeleceu nenhuma lei para os homens a fim de recompensá-los quando obedecem a ela. Ou, para dizer mais claramente, as leis de Deus não são de tal natureza que seja possível transgredi-las. Pois as regras que Deus estabeleceu na Natureza, de acordo com as quais todas as coisas devêm e duram – se quisermos chamá-las leis – são tais que jamais podem ser transgredidas: por exemplo, que o mais fraco deve ceder ante o mais forte, que nenhuma causa pode produzir mais do que contém em si mesma, e outras similares, que são de tal jaez que jamais mudam, jamais começam, mas tudo está ajustado e ordenado sob elas.

 

E, para dizer brevemente algo sobre isto, todas as leis que não podem ser transgredidas são leis divinas. Razão: porque tudo quanto os homens decidem para o seu bem-estar, não segue que seja também para o bem estar da Natureza inteira, mas, ao contrário, pode ser para a destruição de muitas coisas.

 

Por isso concluímos finalmente que Deus, para fazer-se conhecer aos homens, não pode nem precisa usar palavras, nem milagres, nem nenhuma outra coisa criada, somente a si mesmo.

 

Como o que foi do antes, quisemos dar a conhecer não somente que não existem demônios, mas também que as causas (ou, melhor dizendo, o que chamamos de pecados) que nos impedem de alcançar a perfeição estão em nós mesmos.

 

Porém, se não há nenhum necessidade de que se deva supor os demônios, por que então supô-los? Não precisamos, como outros, supor os demônios para encontrar as causas do ódio, da inveja, da ira e outras paixões semelhantes, pois já encontramos suficientemente, sem recorrer a tais ficções.

 

Extraídas de um Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar. São Paulo: Autêntica Editora, 2012.

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