Existem dois tipos de autor: os que têm e os que não têm o que dizer. Encontrar os que têm o que dizer é trabalho de garimpeiro.
Um bom livro não depende da qualidade nem da quantidade de textos e autores citados, mas de como os utiliza.
O modo como se conta uma história é mais importante do que a história mesma. O mesmo vale para música etc.
Com a idade o que ganhamos em experiência perdemos em criatividade.
Trecho de um depoimento judicial: “Ele é um homem extremamente generoso, honesto, excelente pai, filho e esposo” – disse a testemunha a propósito de um criminoso reincidente. E não mentia.
A vida é mais fácil quando se é superficial.
Nenhuma virtude é louvável em si mesma; nenhum vício ou pecado é em si mesmo condenável; tudo depende de como lidamos com isso.
Amar é encontrar a si mesmo no outro.
Pessoas que amam são pessoas perigosas.
Não existem ações absolutamente desinteressadas; desejamos, ao menos, um mínimo de gratidão.
A monogamia é uma violência.
Disse o amante: “te amo, te amo, te amo, incondicionalmente; e completou: “claro, desde que continues assim”.
Conhecimento produz angústia; por isso preferimos, não raro, a ignorância.
“Promete ser fiel e amá-lo para todo o sempre, na riqueza, na pobreza, na doença?”, “Não, padre; tenho horror à mentira”, disse a noiva.
O amor tudo perdoa; a traição, inclusive.
O preconceito, como a ingratidão, é um déficit de afetividade.
Devemos amar (ou odiar) as pessoas honestamente, isto é, como elas são, não como gostaríamos que elas fossem.
“Eu só quero a paz, a justiça e um mundo sem violência!”, gritou o terrorista antes de detonar a bomba.
E como o leão, capturado em plena selva, era bravo, para domesticá-lo, arrancaram-lhe os dentes e unhas; e o acorrentaram e o torturaram; e assim o animal se tornou bom e manso. Os penalistas chamam isso de ressocialização.
“Somos todos iguais”, diz a lei; “Não! Mil vezes não!”, protesta a natureza.
Existem mil formas de trair alguém; o sexo não é a única nem a mais importante.
Justiça e vingança designam o mesmo sentimento.
O contrário da vingança não é a justiça, mas o perdão.
Definição de filósofo: a mais presunçosa criatura humana, pois pretende tudo reduzir a conceitos: verdade, vontade, representação, ser, substância, mônada, espírito absoluto etc.
Filósofos são, em geral, maus escritores.
Tudo que os homens dizem sobre os deuses, a favor ou contra, é arbitrário e inevitavelmente antropomórfico.
Se existissem deuses, a crença divina não seria uma alternativa, mas uma necessidade, como o batimento cardíaco ou a respiração.
Não existem fenômenos religiosos, mas apenas uma interpretação religiosa dos fenômenos (Nietzsche revisto).
Um chimpanzé me confidenciou que seus deuses têm a forma de chimpanzés e são incrivelmente poderosos. O mesmo foi-me dito por um babuíno, um cão e um gato.
Um porco me confessou que tinha horror à religião humana, pois sempre fora tratado como um cachorro.
“Foi Deus que, na sua infinita misericórdia, me salvou desse terrível acidente”, disse o primeiro sobrevivente; “seria muita pretensão da minha parte que Deus, para me salvar, tivesse de sacrificar tanta gente inocente”, retrucou o segundo.
Falar com Deus é a expressão máxima de vaidade.
Religião é mitologia do presente; mitologia é religião do passado.
Quão deprimente é ver um pastor afrodescendente profanar as religiões africanas!
A religiosidade (ou sua ausência), por si só, não faz ninguém melhor nem pior.
“Porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus”, disse o homem; “quanta presunção!”, sibilou a serpente.
Disse um cristão: “só há um Deus: Jesus Cristo!”; ao que um muçulmano retrucou: “realmente só há um Deus; mas esse Deus é Alah, e Maomé é seu profeta!”; enquanto um judeu pensava consigo mesmo: “nosso Deus é mais antigo”. E todos tinham e não tinham razão.
A fé em Deus prova a fé mesma, não a existência de Deus. E ainda que a fé provasse a existência de Deus, restaria a pergunta: qual Deus (ou Deuses)?
Um anjo me confidenciou que, depois de condenado, Lúcifer, arrependido, invocou Mateus 18:22 – em que Jesus diz a Pedro que não se deve perdoar sete vezes, mas setenta vezes sete – e que Deus o perdoara. O perdão, no entanto, foi desde então mantido em segredo, pois, sem o Diabo, ninguém O levaria a sério. Além do mais, uma boa fábula não tem a menor graça sem um vilão digno desse nome. O mesmo teria ocorrido com Adão e Eva.
Frequentemente, o “amar o próximo como a ti mesmo” não inclui as pessoas muito próximas, sobretudo quando não compartilham do mesmo credo.