As revoluções mais violentas nas crenças de um indivídulo deixam intacta a maior parte de sua antiga ordem. Tempo e espaço, causa e efeito, natureza e história, e a própria biografia de alguém, permanecem inalteráveis. A nova verdade é sempre um intermediário, um amaciador de transições.
Os novos conteúdos em si não são verdadeiros, simplesmente aparecem e são. A verdade é o que dizemos a respeito deles, e quando dizemos que aparecem, a verdade é satisfeita pela simples fórmula aditiva.
Uma opinião nova conta como “verdadeira” na proporção que satisfaz o desejo do indivíduo no sentido de assimilar a novidade em sua experiência às suas crenças em estoque.
As verdades têm, uma vez por todas, o instinto desesperado da autopreservação e do desejo de extinguir o que quer que as contradiz.
Somos como peixes nadando no mar dos sentidos, limitados, acima pelo elmento superior, mas incapazes de respirá-lo ou penetrá-lo.
É fácil ver a história do mundo pluralisticamente, como uma corda da qual cada fibra conta uma estória separada.
Mas os ingredientes importantes do mundo, na medida em que são seres, parecem, como as fibras da corda, ser descontínuos, oblíquos, e aderirem somente na direção longitudinal.
Minha tesse agora é essa, que as nossas maneiras fundamentais de pensar a respeito das coisas são descobertas de ancestrais incrivelmente remotos, que foram capazes de preservar-se ao longo de experiência dos tempos subsequentes.
Locke, Hume, Berkeley, Kant, Hegel, foram todos completamente estéreis, na medida do não esclarecimento quanto aos detalhes da natureza em marcha, e com base em seus pensamentos peculiares, pois nem com a infusão de pez em Berkeley, nem com a hipótese nebular de Kant tinham os seus respectivos dogmas filosóficos alguma coisa que ver. A satisfação que proporcionaram ao seus discípulos é intelectual, não prática.
Essa é a tese que tenho de defender. A verdade de uma ideia não é uma propriedade estagnada nessa ideia. Acontece ser a verdade uma ideia. Essa torna-se verdadeira, é feita verdadeira pelos acontecimentos. Sua verdade é de fato um evento, um processo: o processo, a saber, de verificar-se, sua verificação. Sua validade é o processo de sua validação.
Extraídas de Os Pensadores. São Paulo: Nova cultural, 1989.