Citações: Nietzsche-Zaratustra

18 de março de 2010

Eu vos digo: é necessário ter um caos em si para poder dar à luz uma estrela bailarina. (p. 27)

 

De tudo quanto se escreve, agrada-me apenas o que alguém escreve com o próprio sangue. Escreve com sangue e aprenderás que sangue é espírito.

(…)

 

Outrora o espírito era Deus; mas depois se fez homem; agora se fez plebe.

 

Quem com sangue e em máximas escreve não quer ser lido, mas guardado em memória.

 

(…)

 

Há sempre um quê de loucura no amor. Mas há sempre também um quê de razão na loucura.

 

(…)

Eu não poderia crer num Deus, se ele não soubesse dançar” (p. 58/59)

 

O homem do conhecimento não só deve saber amar a seus inimigos, mas também a odiar os seus amigos.

 

Mal corresponde ao mestre o que não passa nunca de discípulo.

 

As melhores parábolas devem falar do tempo tempo e do suceder; devem ser um louvor e uma justificação de tudo o que é efêmero. (p. 119)

 

Se não posso deixar de sentir compaixão, não gosto que me chamem de compassivo; e quando o sou, gosto de o ser à distância. (p. 123)

 

Melhor seria abolir completamente os mendigos! Na verdade, indignam-nos quando lhes damos, e indignam-nos quando não lhes damos. (p. 124)

 

E não é para quem detestamos que somos os mais injustos, mas para aquele que nos é completamente indiferente.

(…)

Deus também tem seu inferno: é o seu amor pelos homens” (p. 125)

 

Mas o sangue é o pior testemunho da verdade; o sangue envenena a doutrina mais pura, e a torna uma loucura, um ódio no fundo dos corações. (p. 129)

 

Vós amais a vossa virtude como a mãe ama o filho; mas ouvimos alguma vez dizer que a mãe queria ser paga de sua ternura? (p. 131)

 

Ah meus amigos, quando vos puserdes integralmente em vosso ato, como a mãe se põe totalmente em seu filho, eu direi que essa é a vossa melhor definição da virtude. (p. 133)

 

O que chamamos a justiça é encher o mundo das tempestades de nossa vingança” – eis o que dizem uns aos outros.

(…)

Eu vos dou, portanto, este conselho, meus amigos: desconfiai de todos aqueles nos quais o instinto de punir é poderoso.

 

Desconfiai daqueles que falam muito de sua própria justiça. Na verdade, não é somente de mel que se alimentam essas almas. E a si mesmas se chamam boas e justas, não esqueçais que para serem filisteus, falta-lhes apenas o poder. (p. 138-9)

(…)

Pois a justiça me diz, a mim, que os homens não são iguais. (p. 139)

 

O que eu aprendi em terceiro lugar: foi que mandar é mais difícil que obedecer. Não somente porque aquele que manda assume a carga de todos os que lhe obedecem, e que essa carga arrisca esmagá-lo, mas porque reconheci que mandar comporta uma aventura e um risco, e cada vez que manda, arrisca a vida. (p. 157)

 

Eis o segredo que a vida me confiou – “ – disse-me ela – eu sou aquela que deve sempre superar-se a si mesma”. (p. 158)

 

Vossos juízos de valor e vossas teorias do bem e do mal são meios de exercer o poder. (p. 159)

 

Tudo quanto é reto mente – murmurou com desdém o anão. – Toda a verdade é sinuosa: o próprio tempo é um círculo. (p. 212)

 

NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém. 3ª Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

 

 

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7 Comentários

  1. me desculpe falar por aqui, mas tentei o e-mail cadastrado neste site, e nao deu certo..entao..

    Boa noite Dr. Paulo Queiroz,

    sou jornalista aqui de Sergipe, e sou tambem estudante de Direito, mas é na função de jornalista que vou estar aí em sao paulo proxima semana acompanhando o julgamento do casal Nardoni e transmitindo todas as informacoes ao vivo para as emissoras de TV e radio onde trabalho. Pois bem, resolvi recuperar meus artigos sobre o caso, e procurar novas fontes. Foi quando me deparei com um texto do senhor chamado ” Caso Isabella Nardoni: por que punir? ” .. li e reli mais de duas vezes seu texto, achei brilhante, um tema extremamente intrigante, e sua abordagem em particular, nos inquieta a alma, pois desmancha toda a nossa ira por justiça ( ou vingança ) inerente ao ser.

    Sendo assim, venho através deste e-mail lhe pedir 10 ou 20 minutos do seu tempo para que eu pudesse entrevista-lo. Seria uma honra frente ao caso Nardoni esta indo rumo a um tao esperado fim, e tambem em face particular, por eu ser estudante de direito e já ter lido o senhor algumas vezes.

    Anciosamente, aguardo resposta.

    Abraços,
    Iury Carvalho
    Repórter e Coordenador de Produção
    Sergipe Em Debate

  2. Oi Paulo, tudo bem?
    Sempre vale a pena resgatar alguns pensamentos de Nietzsche. Louco ou gênio, hiperbólico e nada modesto, dizia, sobre si mesmo, estar 6000 pés acima do nível dos homens. Sobre o Zaratustra, ele dizia ser a sua obra prima. No entanto, tal obra não teve a recepção que ele esperava, fato que o levou a buscar desenvolver radicalmente muitas das idéias expostas nesse texto.
    No entanto, no Zaratustra, estão presentes alguns dos temas fundamentais de seu pensamento, como o significado do niilismo (presente no trecho “O adivinho”), e a necessidade de sua superação (presente no trecho “Da visão e do enigma”), que, figuradamente, acontece quando o pastor morde e arranca a cabeça da serpente negra que o sufoca e paralisa; serpente que simboliza o niilismo.
    Mais adiante no livro, em determinada passagem do trecho “O convalescente”, fica-se sabendo que o niilismo, simbolizado por meio da serpente negra, representa o profundo nojo do homem pela humanidade e a aversão pela existência, que se revela demasiadamente banal e sem sentido.
    Na mesma obra, no penúltimo parágrafo do trecho “Das velhas e novas tábuas”, há um trecho fundamental, que ensina a suprema tábua de valor, que será o alicerce da transvaloração (subversão) dos valores ocidentais, tarefa que Nietzsche se propôs a desenvolver, com o intuito de livrar a humanidade da generalização e intensificação da angústia, do ressentimento e do sentimento de vingança, ou seja, superar o niilismo.
    Tal trecho também foi reproduzido ao final da obra “Crepúsculo dos Ídolos”, e reproduz a conversa entre o carvão e o diamante. Resumidamente, a partir de tal diálogo, pode-se extrair a idéia de que, para afimar a existência, deve-se procurar aceitar e desejar a si mesmo, de modo a não desejar ser outro, não desejar alterar o que aconteceu, bem como não desejar viver o instante seguinte em detrimento do momento presente. Em suma, não desejar o nada (aquilo que não é), em detrimento do ser (a realidade efetiva); tal mensagem é expressa na máxima “Sede duros!”.
    Tal idéia será aprofundada a partir do trecho chamado “O Problema de Sócrates”, presente no início da obra “Crepúsculo dos Ídolos”, e que também foi mencionado ao final do terceiro livro da obra “A Gaia Ciência”, numa passagem chamada “Sócrates Moribundo”. Referido problema se refere a uma frase que Sócrates proferiu antes de morrer: “Devo um galo a Asclépio”. Tal frase, reproduzida originalmente ao final do diálogo “Fédon”, de Platão, ilustra que Sócrates quis morrer, pois, ao oferecer o sacrifício de um galo ao deus da medicina, quis dizer que estava sendo curado de uma doença. Doença essa que era a própria vida. Em suma, Sócrates tornou-se ressentido e angustiado ao extremo, de modo a conceber sua existência como um fardo insuportável de ser carregado. A única saída foi a morte, que foi o alívio e a cura de uma existência que se revelou insustentável.
    Desse exemplo, pode-se extrair a idéia que o aprofundamento da angústia e do ressentimento levam à intensificação da vontade de nada, que, em último grau, leva à percepção da existência como uma doença, fonte de dores e sofrimentos impossíveis de serem contidos, que só podem desaparecer com a morte. Daí se desejar pela morte, que representa a suprema forma de nada.
    Como forma de superar tal concepção de mundo, Nietzsche busca desenvolver o pensamento do eterno retorno, que é a suprema forma de afirmação da existência.
    Em última instância, pensar o eterno retorno conduz ao amor ao destino (“amor fati”), pois, quando se afirma plenamente a existência, não se deseja alterar o que aconteceu, nem ser outro, nem viver o instante futuro. Revela-se plenamente satisfeito com a existência, uma vez que é capaz de visualizar o percurso que se consumou como algo que “valeu a pena”, isto é, justificou-se.
    E isto se deve porque não se visualiza a castração dos projetos de realização, mas, sim, percebe-se que, tão somente ao que aconteceu, é que foi possível descobrir novas possibilidades de realização tão gratificantes que validam e redimem tudo o que foi e o que será.
    Desse modo, realiza-se a máxima expressa por Nietzsche no trecho “Da redenção”, ou seja, transforma-se “todo foi assim num assim eu o quis”, ou seja, é capaz de, num exercício mental fictício, desejar que a existência se repita inúmeras vezes, porque não se vê prejudicado ou negado pelo passado, mas abençoado e enriquecido.
    Ou seja, com a concretização da idéia do eterno retorno, o desejo de alterar o passado, característica da angústia, torna-se inoperante.
    Concretizar a idéia do eterno retorno, bem como a idéia expressa na máxima “Sede Duros!”, conduz à transvaloração dos valores, que é o movimento de subversão dos valores de decadência e renúncia que alimentam a civilização ocidental.
    Em suma, a obra de Nietzsche, no conjunto, é um verdadeiro quebra-cabeças, cheio de alegorias e metáforas, a serem resolvidas à luz de sua idéia fundamental, qual seja, o pensamento do eterno retorno, que é a suprema forma de afirmação da existência e o pensamento mais importante da história da humanidade, segundo Nietzsche.
    Bom, essas são algumas idéias que estão melhores desenvolvidas no projeto do livro, que em breve encaminharei para você. Um abraço do amigo André.

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