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Carta a um jovem professor

Em resposta às indagações que me fizeste, segue minha resposta.

Irás conviver com uns tipos frequentemente presunçosos. Não que isso seja um pecado em si. O problema é que raramente fazem jus à vaidade que ostentam.

Verás que boa parte nada tem nada a dizer que seja seu. Simplesmente repetem, sem mais, os que os outros disseram. Também aí não há mal algum, se o fazem honestamente, precisamente.

Notarás que, não raro, citam e falam de autores que jamais leram ou leram mal.

Perceberás que muitos passam a vida a escrever sobre um dado autor, sem tirar nem pôr, como se o leitor não fosse inteligente o bastante para compreender suas obras diretamente, como se ele fosse o profeta de uma nova religião.

Observa que os mais fracos temem o brilho alheio e talvez te persigam se não participares do grupo numeroso dos medíocres. Esses são especialmente perigosos: tratam-te bem, mas tramam contra ti na escuridão.

Não te impressiones com o número de páginas de certos currículos, pois encerram, por vezes, pura charlatanice. Nota, antes, que o conhecimento está em toda parte, aí incluído o conhecimento dos não especialistas. Que especialistas não são necessariamente as pessoas mais indicadas para tratar de certos temas. Que, como diz Feyerabend, a ciência é um empreendimento essencialmente anárquico: o anárquico teórico é mais humanitário e mais apto a estimular o progresso de que as suas alternativas que apregoam lei e ordem.

Vê que há, para além da fama de alguns e dos modismos de escola, dois tipos de autor, essencialmente: os que têm e os que não têm o que dizer. Que encontrar os que têm o que dizer é obra de garimpeiro, e, pois, exige árdua pesquisa.

Observa que, não raro, temos mais a aprender com o aluno do que o aluno com o professor. Que, como dizia Paulo Freire, quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

Evita fundar ou fazer parte de escola, qualquer escola; sê independente; afinal, nesse mundo plural, complexo e multifacetado, que tentamos reduzir à nossa pobre cosmovisão, cabem todos: sábios e ignorantes, trabalhadores e vagabundos, senhores e escravos, médicos e curandeiros, pastores e feiticeiros, damas e prostitutas, crentes e ateus, moralistas e libertinos, fanáticos e criminosos.

Tolera e fomenta, pois, a liberdade, ao invés de manietá-la. O mundo será melhor se o ponto de vista do outro divergir do teu, e não o contrário. Evita, como recomenda Nietzsche, o mau gosto de pretender que tuas opiniões sejam aceitas pelos outros, teus alunos e mestres, inclusive.

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Não é fácil prefaciar qualquer trabalho de Paulo Queiroz, principalmente quando ele homenageia o prefaciador. O largo tirocínio no Ministério Público Federal, os longos anos de magistério universitário e as inúmeras palestras proferidas por esses brasis afora, congeminados, descortinaram-lhe novos horizontes. E aí está a literatura jurídica pátria engrandecida com mais um trabalho que honra sobremodo as nossas tradições.

A prescrição é a mais relevante, a mais complexa, a mais controversa e a mais frequente causa de extinção da punibilidade. Nem todos concordam com a prescrição e sempre houve quem propusesse a sua abolição total ou parcial sob a justificativa de ser um dos fundamentos da impunidade.

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